terça-feira, 16 de setembro de 2014

Azul, Branco e Afrodescendente


A notícia que tem repercutido muito esta semana envolve o meu time de coração, Grêmio Futebol Porto-alegrense, o episódio entre a torcida gremista e o goleiro santista foi algo que relutei bastante antes de escrever e opinar a respeito. Assim como muitos acompanhei a geração campeã dos libertadores com Jardel, Paulo Nunes e Cia, como tantos me identifiquei com a garra e o empenho que a história de glorias desse clube nos conta. Na noite de quinta-feira 28 de agosto o goleiro Aranha, do Santos, foi alvo de ofensas racistas durante o jogo contra o Grêmio, em Porto Alegre. O episódio aconteceu aos 43 minutos do segundo tempo, quando o placar já apontava 2 a 0 para os santistas. Os xingamentos partiram de um grupo torcedor gremistas localizados atrás do gol defendido por Aranha na segunda etapa, setor normalmente destinado às organizadas na Arena do Grêmio. Ao perceber o teor dos xingamentos, Aranha reclamou com o árbitro Wilton Pereira Sampaio e a partida foi paralisada por alguns minutos. Porém, apesar dos protestos do goleiro, Sampaio mandou o jogo seguir.
A repercussão maciça de tudo que aconteceu na noite do dia 28 se deu no dia seguinte, quando imagens e gritos oriundos da torcida gremista, que deixava bem claro que a reclamação do goleiro santista era procedente invadiram os noticiários do Brasil e do mundo, com a imagem da torcedora Patrícia Moreira gritando em voz alta: “macaco” e flagrada por câmeras de TV que transmitiam a partida foram o estopim desse primeiro ato, aonde a justiça vem intervir para que o bem jurídico maior seja protegido.
A Lei 7.716 de 5 de janeiro de 1989 em seu art. 1º diz: “Serão punidos, na forma desta Lei, os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião ou procedência nacional”, mesmo sendo tão incisiva a lei ela esbarra em um problema que se arrasta há séculos em nosso país, “APLICAÇÂO”, infelizmente quem comete o crime de racismo ou injúria racial não paga por isso, e tal impunidade torna favorável a reincidência deste crime.
O racismo é um problema social e histórico. Ele não existe porque os negros possuam qualquer "característica de inferioridade" ou os brancos sejam "naturalmente" opressores.
O racismo está ligado à exploração. As classes dominantes sempre buscaram aproveitar-se das diferenças de cor, gênero, nacionalidade, região, etc., para construir assim uma hierarquia na exploração. Essa hierarquia ao mesmo tempo divide os explorados em níveis diferentes de exploração (mais e menos explorados) e também justifica que uns sejam mais explorados por… serem negros.
No Brasil, conforme o capitalismo se estabelecia como sistema econômico, o racismo do período escravista foi assimilado, pois isso permitia aos empresários aplicar níveis mais intensos de exploração sobre os negros e as mulheres negras em particular, embora desde o início tivesse havido inúmeras formas de resistência. No topo dessa hierarquia de exploração encontram-se a burguesia e seus agentes: o Estado, a mídia, a Igreja, setores da classe mais alta que incorporam os interesses da burguesia.
Assim, a conclusão mais importante que tiramos, mas que não é de forma alguma unânime, é que para acabar de vez com o racismo é preciso acabar também com o capitalismo e com toda forma de exploração do homem pelo homem.

O Superior Tribunal de Justiça Desportiva eliminou o Grêmio da Copa do Brasil. É uma punição pelas injúrias racistas sofridas pelo goleiro Aranha, do Santos, em Porto Alegre.
Foram quase quatro horas de julgamento na sede do STJD, no Rio. E a decisão foi tomada por unanimidade: 5 votos a 0.
Sabendo da grande repercussão do caso os advogados de Defesa levaram para o Tribunal vídeos mostrando como o Grêmio tem investido em campanha contra o racismo. Ressaltaram também a colaboração na identificação e punição aos torcedores flagrados ofendendo o goleiro Aranha, do Santos, na semana passada. E tentaram desvincular o clube do que chamaram de uma minoria que não o representa.
Já os auditores do STJD entenderam de outra forma. Como não poderiam punir o Grêmio com a perda de pontos, por se tratar de uma competição eliminatória, decidiram pela exclusão do time gaúcho da Copa do Brasil.
“Se nós acabarmos com a descriminação racial no Brasil em razão desta decisão o Grêmio se dá por feliz", afirmou Fábio Koff, presidente do Grêmio.
Apesar da declaração do presidente Fábio Koff, o Grêmio vai recorrer no prazo de três dias. A palavra final deve ser dada na semana que vem, no julgamento em segunda instância.
Quando também voltarão a se defender o árbitro Wilton Sampaio, suspenso por 90 dias, e os auxiliares, afastados por 60 dias. Eles foram considerados omissos ao só citarem as ofensas em um adendo à súmula e não logo após a partida.
Porem este episódio parece apenas estar no começo, pois nesta quinta-feira dia 04 o STJD recebeu o pedido de licença de seu Auditor Ricardo Graiche que foi um dos auditores a votar pela exclusão do Grêmio na Copa do Brasil. O auditor do STJD, Ricardo Graiche, pediu licença de suas atividades no Tribunal por conta da repercussão de imagens de suposto cunho preconceituoso postadas em seu perfil no Facebook. A entidade abriu sindicância para apurar as atitudes do advogado, mas isto já é outra história, oque não podemos fazer é com que atitudes de um grupo isolado destruam a paixão pelo esporte que cidadãos de bem como eu e você mantemos em nossas vidas, devemos lembrar que existem torcedores gremistas de todas as idades inclusive crianças, que de maneira alguma podem ser rotuladas por atitudes de pessoas pobres de espírito e que embora estudadas, demonstram ser desprovidas de racionalidade por se acharem superiores por razões étnicas e raciais.
    A única verdade que devemos crer é a descrita no artigo 5º de nossa carta maior, nossa Constituição Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes”...

Texto: Tiago Diogo

Fontes ZH.com

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